
Durante nove meses, José Ignacio Ponce morou em uma velha van estacionada em frente ao prédio onde é proprietário de um apartamento de três quartos, em Valência, Espanha. O motivo? Sua casa foi ocupada por uma “inqui-ocupa” — termo que define inquilinos que, após assinar contrato de aluguel, simplesmente param de pagar e se recusam a sair.
Sem poder reaver o imóvel por meios legais, José perdeu tudo: roupas, móveis e recordações. A lei espanhola proíbe que o proprietário troque a fechadura ou corte os serviços de luz e gás, sob pena de ser preso por coação. Enquanto isso, a ocupante seguia morando gratuitamente com os filhos — e os pais dela no andar de cima.

O fenômeno da “inqui-ocupação” está explodindo na Espanha, afetando milhares de pequenos proprietários. Estima-se que os casos de ocupações ilegais já ultrapassem 80 mil, número muito superior ao divulgado oficialmente pelo governo.
José recorreu à Justiça, dormiu em um espaço de 3 m² dentro da van, tomou banho no trabalho e enfrentou o calor escaldante do verão espanhol. Só conseguiu a desocupação após provar que também era vulnerável — e após comover o país com sua história exibida na TV.
Mesmo com ordem judicial favorável, a ocupante ainda tentou impedir o despejo usando os próprios gatos como desculpa legal. Só após muita pressão, a polícia conseguiu retomar o imóvel.
Mas o inferno de José não terminou ali. Pouco depois, inundações devastaram Valência e destruíram tudo o que ele ainda guardava em um depósito. Sujo de lama, restaram apenas algumas camisas do time do coração.
José, enfim, decidiu vender o imóvel. O trauma de viver sob o mesmo teto que os antigos ocupantes do pesadelo ainda é insuperável.